Quando as aulas de uma turma de doutorado terminam, José Gomes Canotilho leva
seus alunos para conhecerem seu vinhedo, na cidade de Pinhel, no interior de
Portugal. A propriedade que o jurista herdou do pai agricultor é a paixão da
família. Ele contou sobre as videiras em uma entrevista exclusiva à reportagem
da Gazeta do Povo, quando esteve em Curitiba para o X Simpósio Nacional de
Direito Constitucional, no fim de maio. Canotilho contou também sobre como, em
1975, reuniu-se em sua casa com alguns companheiros comunistas para redigir, em
menos de uma semana, a Constituição de Portugal. Seus olhos marejam quando
relembra a noite de maior solidão de sua vida: quando precisou decidir se ia ou
não para a guerra. O jurista também explicou a evolução da teoria da
constituição e avaliou as mudanças na Constituição Brasileira e a atual
realidade da Comunidade Europeia.
O senhor defendeu por um tempo a constituição dirigente, mas depois
passou a defender que a sociedade civil deve garantir alguns direitos e não
“tanto” o Estado. O que levou o senhor a mudar de opinião?Não
podemos esquecer de que participei da elaboração do projeto da Constituição
portuguesa pelo partido comunista. E, curiosamente, o projeto do partido
comunista foi feito na minha casa durante uma semana, com a minha mulher a
alimentar três ou quatro pessoas. Na nossa perspectiva, a Constituição era o
elemento que fazia parte da metanarrativa de libertação e de construção de uma
sociedade socialista. E nesta perspectiva que se deve localizar a minha ideia de
reflexão sobre o sentido de constituição dirigente. A própria norma
constitucional era uma alavanca de Arquimedes na transformação social. Tendo em
conta a evolução em sentido contrário, a queda do muro de Berlim e a dificuldade
de transformação, no fundo uma norma fundamental é importante, mas, sem suporte
social, sem suporte participativo, de mobilização, dificilmente uma norma é uma
norma dirigente. É neste sentido, não é fuga.
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