A troca de comando pode mudar o perfil da mais alta Corte do país e também
interferir no julgamento do caso do mensalão.
A troca de comando no Supremo Tribunal Federal (STF) e no Conselho Nacional de
Justiça (CNJ), que ocorrerá nesta quinta-feira, pode mudar o perfil da mais alta
Corte do país e também interferir no julgamento do caso do mensalão.
Especialistas ouvidos pela Gazeta do Povo acreditam que a gestão do ministro
Carlos Ayres Britto, que vai substituir Cezar Peluso na presidência das duas
instituições, pode significar uma postura um pouco mais liberal se comparada com
a do atual presidente, vista como conservadora.
Em dois recentes e rumorosos julgamentos no Supremo – envolvendo a Ficha
Limpa e os poderes de investigação do CNJ – Peluso e Ayres Britto divergiram.
Peluso votou contra a Ficha Limpa e contra a possibilidade de o CNJ investigar
magistrados antes que o tribunal de origem se manifeste a respeito do caso. Já
Ayres Britto proferiu voto favorável nos dois processos.
Transparência
Para Marco Antônio Villa, sociólogo e professor de História da Universidade
Federal de São Carlos (UFSCar), a presença de Ayres Britto na presidência do CNJ
e do STF será muito positiva e “deve oxigenar o funcionamento principalmente do
CNJ, dando mais celeridade e transparência”, afirmou. O historiador diz que a
sociedade espera resultados e que a gestão do futuro presidente do Supremo deve
ser um pouco mais alinhada com as demandas da população. “A sociedade precisa de
uma ação enérgica do CNJ. O Peluso é mais corporativista e conservador, até
porque veio do Tribunal de Justiça de São Paulo. E o Ayres Britto veio da
advocacia”, compara Villa.
A perspectiva de que o novo chefe do Poder Judiciário do país tenha maior
sintonia com as demandas da sociedade também foi destacada pelo vice-presidente
da Ordem dos Advogados do Brasil, Alberto de Paula Machado. Segundo ele, é
grande a expectativa de que Ayres Britto tenha um diálogo mais aberto do que o
Peluso com outros operadores do direto, como o Ministério Público e os
advogados.
De forma semelhante, o deputado federal Osmar Serraglio (PMDB-PR), que foi
colega de mestrado do ministro Ayres Britto, vê a mudança no STF e no CNJ como
“avanço no sentido dos dois órgãos serem menos corporativistas”.
De outro lado, há quem considere que a mudança na presidência do STF e do CNJ
não deve trazer mudanças significativas no perfil dessas instituições. Essa é a
opinião do cientista político Octaciano Nogueira, professor da Universidade de
Brasília (UnB). “O Judiciário é um poder cada vez mais estático porque os
ministros estão sujeitos a uma Constituição conservadora”, afirma.
Todos os especialistas ouvidos pela reportagem se mostraram preocupados com a
possibilidade de a aposentadoria de Peluso postergar o julgamento do mensalão
para 2013, já que a escolha de um novo ministro depende da presidente Dilma
Rousseff e da sabatina no Senado. O STF discute proposta levantada internamente
para que seja suspenso o recesso de julho e haja uma convocação exclusiva para
os ministros julgarem o processo do mensalão.
Disponível em: http://www.gazetadopovo.com.br/vidapublica/conteudo.phtml?tl=1&id=1244372&tit=Com-Ayres-Britto-STF-deve-ficar-mais-liberal. Acesso em: 14 abr. 2012.
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