Ministros decidem que reserva de vagas para negros nas universidades não viola o
princípio constitucional da igualdade, mas defendem aperfeiçoamento do sistema.
O Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu ontem, por unanimidade, que a reserva
de vagas em universidades públicas com base no sistema de cotas raciais é
constitucional. Durante dois dias de julgamento, os ministros analisaram a ação
ajuizada pelo partido Democratas (DEM), em 2009, contra esse sistema na
Universidade de Brasília (UnB).
Os dez ministros – Dias Toffoli não participou do julgamento porque atuou no
caso quando era advogado-geral da União– deram nesta quinta-feira o aval para
que universidades brasileiras reservem vagas para negros e índios em seus
processos seletivos e afirmaram que as ações afirmativas são necessárias para
diminuir as desigualdades entre brancos e negros e para compensar uma dívida do
passado, resultante de séculos de escravidão no Brasil. No caso específico
julgado, o STF concluiu que a política de cotas estabelecida pela UnB não viola
a Constituição.
O mais aguardado dos votos foi dado por Joaquim Barbosa, único negro a
integrar o Supremo e que, na semana passada, disse ser vítima de racismo na
própria corte. “É natural que as ações afirmativas sofram um influxo de forças
contrapostas e atraiam resistência da parte daqueles que historicamente se
beneficiam da discriminação de que são vítimas os grupos minoritários”, afirmou
Barbosa.
Na quarta-feira, o relator do processo, ministro Ricardo Lewandowski, já
havia votado favoravelmente às políticas de cotas. O voto foi seguido pelos
demais. “A construção de uma sociedade justa e solidária impõe a toda
coletividade a reparação de danos pretéritos perpetrados por nossos
antepassados”, afirmou o ministro Luiz Fux, o primeiro a votar na sessão desta
quinta-feira.
Mal necessário
A ministra Rosa Weber afirmou que a disparidade racial no Brasil é flagrante
e que a política de cotas não seria razoável se a realidade social brasileira
fosse outra. “Se a quantidade de brancos e negros pobres fosse aproximada, seria
plausível dizer que o fator cor é desimportante”, acrescentou. Os ministros
ressaltaram, no entanto, que a política de cotas deve ser temporária, até que
essas disparidades sejam corrigidas.
O ministro Marco Aurélio Mello afirmou que a neutralidade estatal ao longo
dos anos resultou em um fracasso. “Precisamos saldar essa dívida. Ter presente o
dever cívico de buscar o tratamento igualitário”, disse. Ele lembrou que quando
presidiu o STF implementou um sistema de cotas para contratação de funcionários
terceirizados.
Apesar de votar favoravelmente às cotas, Gilmar Mendes ressaltou que a
reserva de vagas para afrodescendentes pode provocar situações controversas. Na
opinião do ministro, o ideal seria que a ação afirmativa fosse baseada em
critérios socioeconômicos. “Aqui permite-se uma possível distorção. Que pessoas
que tiveram um desenvolvimento educacional adequado sejam convidadas a trilhar
caminho facilitário das cotas”, disse. “Ricos que se aproveitam da cota,
pervertendo, portanto, o sistema”, completou.
leia na íntegra aqui.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Deixe aqui seu comentário.
Responderei assim que possível.
Grata pela visita!