Defensor ferrenho da Constituição e do patrimônio brasileiro, o advogado Celso
Antônio Bandeira de Mello não hesita em manifestar suas posições políticas, nem
em fazer críticas a comportamentos excessivos no Judiciário. Torcedor fanático
do São Paulo, Mello também se permite dar pitacos sobre futebol. O advogado é
integrante da quinta geração de juristas na família. Especialista em direito
administrativo e professor da Faculdade Paulista de Direito da Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) desde 1974, o jurista também foi um
dos fundadores do Instituto Brasileiro de Direito Administrativo e do Instituto
de Direito Administrativo Paulista (IDAP).
O senhor é um grande entusiasta da Constituição de 1988. Qual a sua
opinião sobre a mutabilidade constitucional?
Acho a Constituição monumental. Se não é a melhor, certamente é uma das
melhores. Vi com muito maus olhos as mudanças com sentido desnacionalizante.
Aderiram de maneira mais entusiástica e até servil às ideias da “globalização” –
eu não gosto de usar esse termo “globalização”, que serve, na verdade, para
substituir a palavra imperialismo. Mas, esse período mais negro, já passou. O
governo anterior [FHC] viu que, sem modificar a Constituição, não poderia
realizar o projeto desnacionalizador.
O senhor apoiou claramente Dilma Rousseff durante a campanha. Como
avalia o governo dela?
Eu avalio com expectativa favorável. Dilma procurou minorar algumas das
desnacionalizações. Foram estabelecidas regras que privilegiam empresas
brasileiras. O senhor [Fernando] Henrique [Cardoso] desnacionalizou o país e
deformou a Constituição, acumpliciado com o Congresso. Queriam abrir o mercado
interno, que é patrimônio nacional. O governo Dilma, nessa matéria, tem sido
mais enérgico que o governo Lula.
O senhor tem se mostrado insatisfeito com a repercussão sobre as
investigações do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). O senhor considera que há
excesso nas investigações?
Não acho que seja excessivo. Mas a coisa não foi conduzida como deveria. A
ministra Eliana Calmon usou uma linguagem inadequada. A magistratura demanda uma
serenidade muito grande, equilíbrio nas palavras. Não estou negando que poderá
haver bons frutos. Mas a imprensa quer vender jornal e isso tem sido um
escândalo. O público quer ver reputações sendo arrastadas para a lama. Até
pessoas com reputação absolutamente louvável e impoluta, como o ministro [Cezar]
Peluso, são envolvidas. São coisas desse tipo que a gente fica com desgosto.
O propósito pode ter sido o melhor possível, a maneira de fazer foi
excessiva. O Judiciário era um poder respeitado. O Legislativo, ninguém respeita
mesmo...
E o Poder Executivo?
De um modo geral, o Poder Executivo nunca foi generoso. Generosidade só houve
a partir do governo Lula. Mesmo com toda a imprensa contra, o prestígio dele foi
fantástico.
Além de advogar, a quais outras atividades o senhor se
dedica?
Há muito anos dou pareceres e faço conferências. O que não quer dizer que
seja alheio ao mundo. Tenho interesses políticos como qualquer cidadão. Sou
torcedor do São Paulo – não perco um jogo. Estou aguardando também a
participação do Brasil na próxima Copa do Mundo, com muita preocupação. A
seleção brasileira vai ser eliminada logo no começo – anda muito mal o futebol
brasileiro.
Celso Antônio Bandeira de Mello, especialista em direito administrativo e
professor da Faculdade Paulista de Direito e da PUC-SP.
Disponível em: http://www.gazetadopovo.com.br/vidapublica/justica-direito/entrevistas/conteudo.phtml?tl=1&id=1248146&tit=O-defensor-da-Constituicao. Acesso em: 01 mai. 2012.
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